quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Nosso fim de festa nunca acaba

Cambaleando num samba triste até o banheiro ele abre o ziper e tenta acertar o alvo mas boa parte do jato de urina encharca suas botas ja imundas e ele volta pro balcão com os cotovelos colados nele e o cigarro acima do seu corpo a muito tempo sem vida, ele enxuga os copos pra enxugar as lágrimas mais constantes que o dinheiro em seu bolso.

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Ela tinha olhos dissimulados que te negavam afagos óbvios e isso te motivava a agir como um cão adestrado que faz algum gracejo em troca de uma recompensa qualquer. Ela conseguiu tudo o que queria e teu prêmio foi um gélido adeus.

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Eram um casal sonhador que costumava admirar as estrelas depois de algumas horas de libido tempestuosa. E olhavam as estrelas e sonhavam tanto que seus sonhos iam além dos limites que podiam imaginar e esqueciam que a muito tempo as estrelas estavam ali mortas com seu brilho nostálgico como um constante até logo que nunca chegava.


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Tinha algumas horas antes de ir pra escola e sempre via os desenhos logo quando acordava. Nesse dia era férias e eu poderia ver todos os desenhos comendo alguma porcaria com um sorriso cinico e inocente na cara. A manhã amiga faleceu aos 7 anos por ser fragil demais e brincar demais com isso. Vi todos os desenhos como quem olha pra uma parede branca e posso garantir que não lembro desse episodio de "caverna do dragão".

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Seus tios travavam um acalorado bate boca politico com esquerdas e direitas inflamadas e voando raivosas em pequenos jatos de saliva. As vezes você olhava pra toda aquela cena e pensava em todo aquela bajulação em cima de alguém que se quisesse mesmo te fazer um favor não te governaria. Mas talvez so os 3 porquinhos não tenham medo do lobo mau ou simplesmente seja algo que ainda não tenha entendido e essa de sustentar os outros num pódio possa ser algo ao menos extremamente divertido.

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Alguns lugares enladeirados escorrem mijo de muitos malditos boçais da cidade e todo os outros estranhos cheio de si ou perdedores mas que convivem no mesmo ambiente e mijam naquela rua enladeirada deixando a urina descer como suas vidas escorrem pelos dedos em suas rotinas inofensivas escondidas nesse conforto letal que aos poucos te faz definhar em um rio de hipocrisia que te leva com a correnteza. Hoje é outro dia de festa e todos os sorrisos parecem mais tristes que você e alguns casais se beijam na escuridão da velha ladeira enquanto pisam no seu mijo e você se pergunta como alguém pode realmente gostar de um lugar tão fétido. Ora, meu caro! talvez eles sejam mais vivos que você e todos que o frequentam. E as horas se passam e um solitário de olhos entorpecidos apenas observa cada ruina que caminha entre as ruas com seus sorrisos desmoronando.

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Amanheceu outro chute na sua cara e embriagado demais pra ter tempo pra ressaca você olha pros lados e nesse exato momento lembra onde esta e ve ao lado a porta do bar fechada e uma garrafa de cana quase vazia enquanto as pessoas passam com um olhar torto ou fingem não estarem te vendo ali. Você ergue a garrafa e canta uma velha canção tão perdida quanto você e virando a garrafa num gole só você acaba com sua falta de sono e com algum amor que ainda restava naquela manhã. Alguns acham que vicio não tem nada a ver com amor mas muitas vezes ele podem ser a única coisa mais próxima que se tem pra segurar a onda. Abro o bar e acordo o maltrapilho e mando ele tomar um banho e lhe passo um copo pra juntar água e tirar a espuma do sabão. Enquanto o pobre imbecil faz isso eu vou colocando as mesas pra fora e quando ele volta em torno de meio dia, eu faço uma dose e coloco na mesa dele e digo que é por conta da casa. Ele espantado pergunta porque eu fui tão gentil depois de anos expulsando ele do meu bar. Começo a rir e olho pro desgraçado e digo:

-Hoje você cuida dos clientes no meu lugar. Te dou um emprego por hoje e sua divida eu esqueço mas aproveite bem essa dose porque hoje quem vai afogar a vida sou eu.

Ele olha com receio enquanto pego um conhaque e começo a beber no gargalo e o sol ja ameaça ir embora mas na minha cabeça tudo me assombra num insistente amanhecer onde a vida parecer sorrir mais na casa do vizinho.

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Um dia desses dormi na calçada enquanto todos estavam ainda de pé. O chão frio e a chuva que caia foram companheiros mais sinceros e até o cara que tentou puxar minha carteira me pareceu mais decente. Meio tonto custo a levantar mas quando consigo sigo sozinho o caminho até minha casa e parece ser a melhor companhia naquele momento. Quem poderia me assaltar deve ter achado melhor não interromper uma manisfestação pública de afeto tão rastejante e cômica. O melhor egoismo é quando se desaba na cama depois de um dia cansativo e simplesmente o dia se apaga como se puxassem ele da tomada... amanhã você se preoucupa com a nova página em branco.

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