terça-feira, 5 de outubro de 2010

Asfixia

Agonizando outro ano num mergulho constante
Alguns dias para ter um 9 baleando sua cabeça
As mãos se envolvem e sugam tua vida
Como tentaculos famintos elas te puxam pra baixo
E o topo que se pode enxergar olhando pra cima
Foi construido em cima de você
Tijolos prepotentes te esmagam os inocentes pedidos
Aquele desejo pueril e ingenuo que o tempo um dia te arranca
Convencionou se chamar de infância esse efemero sonho real

Denominaram todo não pronunciado como lei
Definiram seu definhar como punição por não seguir um molde
Longe se pode escutar o som de um baixo pulsando sombrio e profundo
E uma voz que sussurra e grita sangue vivo explodindo na face morta da rotina
Ele quer chegar na superficie mas seus longos braços não alcançam
É a canção vivendo auto flagelação
Um destrutivo grupo de acordes que não consegue poupar nada
Ele nem ao menos se preocupou em se preservar

Lentamente vai perdendo o controle a cada rua que se perde no caminho
Tosse enquanto com uma mão parece querer segurar o estomago que queima tanto
Que a impressão que se tem é que ele vai abrir um buraco e se libertar do seu corpo

Continua tossindo e os olhos parecem querer pular das duas covas que formam suas olheiras insones

A boca seca articula na lingua afiada e enferrujada amores mortos cuspidos em vermelho

Os carros colidem em dias velozes em encontro a qualquer lugar
No banco de trás se carrega outro orgasmo falso e fingido
Súplicas por piedade não existem mais
Qualquer esmola é uma faca afiada, quando toda ajuda vem das mãos de deuses auto
proclamados

Todos os anos foram só um sonho ruim? eles te assombram mesmo quando ignorados
A intensidade de seus lamentos são um mero detalhe a ser descartado
Agora se encontre em seu quarto onde se passam os dias de isolamento
Os olhos ainda esboçam alguma vida que afirma
A felicidade cheirando cola pra matar a fome porque ela carece de sorrisos
Ser qualquer outra coisa desde que não seja real assina sua farsa
E numa ilusão dolorida que com covarde indiferença negamos
Se torna tudo que se tem ao seu alcance
Agora que você afundou mais, a certeza que a superficie esta distante se faz presente

No reflexo enxergo a mão que consegue chegar ao topo ansiando ajuda
E logo trato de pisar nela para que nunca mais possa subir
Quando abro os olhos vejo que sempre se pode afundar mais
E não vejo mais a luz do topo sorrir cinicamente pra mim
E as paredes se fecham como outra porta que bate na sua cara

Um comentário:

Sara disse...

"Os olhos ainda esboçam alguma vida que afirma". Definitivamente esse foi o que mais gostei. Muito bom.