terça-feira, 7 de abril de 2009

Nenhum dia de aula te ensinou sobre você

O primeiro dia de aula sempre é cruel, a sensação paranoica de estar num lugar estranho, com pessoas estranhas e pra aprender coisas estranhas que alguém cismou de ter muita utilidade prática no cotidiano de todos é algo que pode ser bastante traumático. Ele entra na sala e todos olham com desprezo pra sua roupas amassadas num desleixo estético que combinava com o andar desengonçado e a cara de quem estava sempre com o pensamento em outro lugar. Ou seja, o tipo de cara que sempre vai ser uma vitima, seja numa sala de aula ou num escritório. Rastejando até uma cadeira vazia no fundo da sala uma perna surge no caminho lhe jogando de cabeça num tropeção contra a cadeira e te lembrando que você é a escoria da escoria e esta ali pra ter a mesma função que um livro de auto ajuda teria pra sua mãe, que você traz esse beneficio pra toda a sala e se brincar pra outros alunos de outras turmas. Você é o cara que eles precisam pra descontar as frustações diárias de serem sempre os mesmos caras e agirem de maneira progamada pra serem aceitos na turma. Você desperta raiva por ser você mesmo e nunca ter tentado agradar, simplesmente se rastejando timidamente sem nenhuma reação até sua cadeira, com medo de todos os sorrisos maldosos e de toda brincadeira sacana que afastava as garotas e criava muros para possíveis amizades, todo o sangue expirrado pelo nariz depois de apanhar durante alguns minutos por ser diferente. Você chega em casa e sente dor e odeia aquela situação por ela ser tão patética e você se sentir mais patético ainda por não conseguir solucionar isso. Sua mãe reforça sua incapacidade insistindo para que no próximo dia seja comunicado os abusos cometidos pelos colegas, atestando assim sua incompetência em resolver isso sozinho, coisa que seu pai parece ter prazer em esfregar na sua cara xingando e gritando que homem não leva desaforo pra casa, mas mal sabe ele que o desaforo começa em casa. Logo seus pais o deixam sozinho com a suposta segurança de um tio que vive bêbado e mal dizendo a vida pois não consegue segundo suas próprias palavras "comer uma mulher sem pagar". A segurança que seu tio tinha pra oferecer era as portas trancadas e suas calças arreadas e logo uma palavra de ordem que te obrigava a se ajoelhar e colocar aquela porra imunda na boca e depois vinham as ameaças pois se não ficasse quietinho todos iam saber que você era uma bichinha de merda que se insinuava pro tio. Seus pais nunca acreditaram em nada vindo de você, então pra que esperar algo deles? nunca iriam deixar de acreditar no tio, alcoolatra porém pertubado,doente e que precisa de ajuda pois seu pai ainda deve muito dinheiro pra ele, nos tempos que seu tio podia esnobar e esbanjar a vontade mas que num raro momento de compaixão, emprestou uma grana pro irmão mas que o deixou devendo muito mais do que o dinheiro, e hoje seu pai deve a alma ao seu tio. Sua mãe age como uma criança inocente e alheia a tudo, vivendo num mundo construído pela fantasia de que tudo pode ser controlado se entupindo de calmantes,anti depressivos e todo tipo de remédio que controle seu sitema nervoso, altere seu humor e torne a mulher indiferente a vida. Pra que viver quando se pode estar sempre dopado e de forma legal? com um receita médica e uma farmácia em casa, a vida perde o sentido e as tarjas pretas fazem mais sentido. Você chora silenciosamente no quarto, com as calças arreadas e uma dor no rabo que te lembra o quanto doí viver, enquanto da sala se pode escutar o barulho da tv falando de algum carro que seria a extensão do seu pênis e resolveria todos os seus problemas. E você pensa que seu cu deveria valer mais do que a porra de um carro, que aquela merda toda tinha que mudar e sua vida não deveria ser assim. Você olha pela janela e pensa em todo dia sendo obrigado a viver algo que não é seu, que não é você e que te forçam a fazer tudo isso simplesmente porque você não finge ser nada além do que é.
Outro dia no colégio e te forçam a lamber bosta de cachorro do tênis de um idiota daqueles que faz algum esporte e ganha todas as garotas que tanto reclamam da estupidez masculina mas que continuam fazendo questão de escolher os caras mais idiotas. Seus óculos no chão, quebrado e enquanto pisam na sua cabeça contra o chão e um caco da lente corta seu rosto perto do olho estourando uma de suas espinhas. No chão sendo humilhado e pensando no troco, em como seria bom ter a vingança em suas mãos e todas aquelas balas perfurando seus obstáculos, mas isso é legal em filmes ou pode funcionar bem em escolas americanas, mas você nem mesmo sabe atirar e nem tem grana pra uma arma. resta encarar outro dia e tentar fugir, se esconder e chorar sozinho. Chegando em casa uma movimentação estranha de carros de policia e uma ambulância sai disparada da sua casa rumo ao hospital mais próximo, e logo depois seu pai aparece sendo algemado por dois policiais. Ele matou seu tio, nem ao menos te deixou a chance de sonhar um dia fazer isso com suas próprias mãos. Mais uma vez sua família prova sua incapacidade. Tanta autopiedade e autoflagelação numa vida podem te levar a um suicídio ou algum ato extremo e urgente do tipo. Mas você é estúpido e escolheu continuar vivendo e agora que tinha sua mãe, podia em partes ter mais liberdade. Ao menos ela teria mais preocupação com a caixa de valium que ta acabando do com o que esta acontecendo realmente na sua vida. Os anos se passaram e você tem seu primeiro encontro, uma garota linda, daquelas que todos acham que não pode ser real sorri pra você e por pena segura sua mão. Quando as coisas finalmente esquentam ela para e veste as roupas falando do seu ex namorado, que por sinal é o mesmo que um dia te fez lamber bosta de cachorro e que enquanto namorava a tal garota tinha saído com mais da metade das meninas do colégio. Ela olha pra você e diz que sente muito, murmura um coitadinho com aquela cara nauseante de pena e você cospe na cara dela ganhando logo em seguida um tapa, algo muito mais sincero e digno,você pensa. Ela corre e te deixa pra trás com nenhuma boa lembrança. Você vai andando um passo de cada vez até chegar num bar fedendo a mijo, senta e pede uma cerveja e logo essa cerveja se multiplica e não se sabe mais quantas foram consumidas. Um litro de alguma cachaça vagabunda te deixa pela primeira vez com uma sensação prazerosa. Você se sente livre mas alguns segundos se passam e o mundo gira e tudo parece ter sido apagado como se alguém desligasse um interruptor na sua cabeça. O sol te acorda e queima a pele enquanto sua primeira visão é o vomito brilhando com a luz e logo sente o cabelo melado de vomito e o mal cheiro que se confunde com o cheiro do bar. O dono que também faz as vezes de garçom dando conta de tudo sozinho logo se apressa a cobrar a conta. "Toda vida tem uma conta meu chapa" e você levanta a cabeça e olha fixamente pra cara do sujeito e lembra do tênis cheio de merda e aquele gosto que nunca se esquece. O cara sorri e fala seu apelido e logo diz que tudo foi por conta da casa gerando um estranhamento seu e uma pergunta. A resposta? "eu era mais merda do que você, por te obrigar a fazer algo tão estúpido, mas precisava fazer aquilo com você pois sabia que você era o melhor de todos ali naquela sala, você era real e sincero " e depois completa com um " era coisa de moleques querendo se afirmar, entrar numa turma, fazer parte de algo". Ele te olha com receio enquanto esta rindo descontroladamente e depois que para olhando pro seu carrasco dos tempos de escola e dizendo as seguintes palavras "eu fazia parte de algo mas nunca me deram a chance de mostrar quem eu era, mas sabe de uma coisa? eu não sou nem um pouco diferente de vocês" e logo quebrando uma garrafa e partindo pra cima do balconista rasgando sua pele de um canto a outro criando um mapa naquele corpo antes atlético com seus músculos vazios, mas agora gordo e ensanguentado caído no chão de um banheiro de um bar nojento e cheio de mijo. Com a garrafa quebrada na mão e ligando pra policia você espera que os homens fardados cheguem logo e te tragam uma liberdade dentro de uma cela. Uma liberdade que você nunca teve fora...mas qual liberdade?