sexta-feira, 5 de junho de 2009

Vagas para auxiliar de Zé ninguém

As opções são escassas assim como o seu bolso. Devendo uma carteira de cigarros e bebendo cachaça de procedência duvidosa graças a gentileza de algum amigo, os dias se seguem em círculos, em volta de respostas negativas e cópias do seu currículo recheando a lata de lixo de algum escritório ou espelunca qualquer, se juntando a outros tantos futuros de bolso furado e afirmando seu presente desempregado. Outro dia de insônia lhe aguarda, dormindo tarde e pouco e constatando num misto de cinismo e angustia a programação televisiva.Como suas odes a demência, construindo ao longo da noite uma verdadeira lavagem cerebral, terapia de choque numa população já não muito informada que engole tudo direitinho e bem mastigado, numa ânsia, na carência de algo que deixe suas vidas algumas horas fora da realidade, já difícil e cheia de contas pra pagar e bocas pra alimentar. Pra que lembrar de cultura e ver algo educativo, uma coisa construtiva pra sua vida quando você ta mais preocupado em pagar a água ou se amanhã vai ter almoço? Informação de qualidade é pra quem tem, quem não tem que se conforme em sonhar em ter o carro, a casa ou o cabelo da moça da novela ou mesmo em ter uma mulher descartável, porém “gostosa” como uma dessas mulheres frutas qualquer que ganha mais do que qualquer pai batalhador que tenta trazer comida pros seus 8 filhos que moram em cubículo que seria ideal pro cachorro vira lata da família, É tanta fruta nova que eu acho que seria mais sensato se criassem a mulher salada de frutas, assim poupava um pouco criatividade dos produtores que vivem as custas da imagem dessas garotas descartáveis e do público consumidor de lixo, que já foi descrito anteriormente nesse texto nada interessado em normas gramaticais e que certamente não sairia num jornal e muito menos traria algum trocado pra ajudar nas despesas da casa, mas tem função de um desabafo silencioso e desesperador como um espelho quando revela as maiores perdas. Ao menos causa algum alivio... Ao menos até amanhã, quando você que já não dormiu bem, acorda cedo e caminha por ai deixando seu currículo que não é lá essas coisas, esperando um não previsível ou aquela negação educada “aguarde que entraremos em contato”. seguida logo daquele sorriso cínico de quem pensa que é mais que você pelo simples fato de estar do lado de dentro, ser o cara que da as ordens, faz as escolhas. Com uma arma na mão poderia fazer muito mais do que escolhas, mas não iria pagar meu almoço então acabamos voltando ao mesmo ciclo de auto flagelação. As pessoas falam em tatuagens e piercings e programas de auditório ainda insistem em levar jovens que fizeram tal “aberração” em seus corpos e seguirem com seu questionário de perguntas desprovidas de bom senso e como não pode faltar a clássica pergunta sobre a dor em fazer tal mutilação em seu corpo. Hoje posso afirmar com certeza, viver dói mais do que fazer uma tatuagem, o que não vem ao caso, mas me veio à cabeça apenas pela falta de algo melhor pra pensar ou fazer, Desemprego faz essas coisas às vezes. Te leva a ficar em casa pensando um monte de esterco e acaba nascendo algum texto desses escrito com rancor e desilusão como escreveria um cachorro se pudesse pensar sobre estar correndo a horas atrás do próprio rabo. Sei de uma coisa, a cada dia acordo com a mesma sensação, a certeza de que odeio dinheiro e odeio depender dele. Creio que o dinheiro seja a pior criação do homem, pois ele trouxe todas as outras dores e julga injustamente quem deve viver bem e quem deve sobreviver num rascunho de vida e ser mais um, assim como eu e você. Não moro num barraco e tenho que agradecer ao maldito dinheiro que apesar de pouco, ainda existe o suficiente pra não jogar a minha família numa situação pior a que estamos. mas isso me deixa uma dúvida, tenho que agradecer ao dinheiro porque poderia estar mais enrolado em dividas ou mais isolado do mundo pela falta do divino dinheirinho nosso de cada dia? Quantas cifras têm seu Deus? Parece ser a pergunta correta dentro do contexto em que vivemos. É um fato histórico, estamos num país dependente e a hipocrisia é gritante em relação ao uso de certas substâncias e os tais aditivos permitidos pela lei daqueles que tem muita grana e precisam da ilegalidade de certas coisas pra manter tráfico e outras mazelas sociais que trazem mais lucro pra esses que já tem demais, mas como são sádicos o suficiente pra usar o discurso da família e dos valores pra negar algo que já é fato. As pessoas vão continuar usando entorpecentes, sendo algo dentro ou fora da lei e proibir algo nunca foi uma solução e muitas vezes atiçam a curiosidade humana. Então o cara que rala o dia todo não pode fumar seu baseado na frente de casa, tranqüilo mesmo pagando impostos como todo mundo. ai tem que descer numa boca e correr o risco de ganhar um belo buraco na cabeça e estrelar algum programa policial qualquer com um apresentador moralista que certamente nos bastidores deve ter o rabo preso e fazer algo tão “hediondo” ou até pior. O tráfico e a policia se sustentam, lutam, mas precisam um do outro e quem tem dinheiro e dita as regras, precisa dos peões não só entorpecidos como sem nenhuma informação útil, ou seja, não seria o uso de drogas que levaria o povo a alienação mas, sim, a falta de informação, pois você pode fazer o que for na sua vida, mas se conhece os seus direitos e se tem informação sobre o que faz, o que vive acaba se tornando perigoso pra quem ta no poder. Mas eles se importam quando seus filhos de boa família e que sempre estudaram nos melhores colégios se tornam viciados, da mesma forma que quando alguém rico mata ou é assassinado, todo mundo fala, lembra e todos nos tornamos mais humanos. Drogas nem morto, mas porcaria na TV e beber com “moderação” vendo os jogos de futebol é permitido. Quem bebe com moderação? Poucos e convenhamos, é algo bastante sem graça. Boicotar o direito de discutir, questionar algo e ter o desejo de fazer o que sente ser o melhor pra sua vida é algo cruel e absurdo que é aceito por todos como algo normal. Não to defendendo nada especificamente, não estou fazendo apologia, nem sendo politizado, mas estou falando de vida, da minha e talvez da sua e estou cheio dessa mesmice e cheio de ser o cara lá atrás num canto, não fazer parte da “turma” simplesmente porque não tenho ou não quero bajular quem tem. Até quando te lembram pra te chamar pra algo legal tem grana no meio como motivo do convite feito. Mas eu estou cheio, assim como muitos mas não to querendo dizer que quero fazer parte da tal “turma”, mas acho que todos independente da quantidade que recheio seu bolso, merece o mínimo de respeito, porém é esse o ponto que revolta mais, é utópico acreditar que as pessoas vão se respeitar, ou que o mundo vai se tornar um lugar melhor, mesmo que você diga que faz a sua parte reciclando ou pregando o amor ou seja lá o que for, a humanidade caminha e gira em torno de uma suposta evolução, mas a tal busca é sempre por consumir mais e ter mais, seja lá o que for. É um conceito forte demais, e claro que podemos ter algumas conquistas, alguns pontos podemos realmente trabalhar e ter ao menos um pouco mais de justiça em nossa convivência detestável nesse planeta despedaçado. Mas ninguém vai salvar o mundo da humanidade, a solução é o nosso fim. Se formos seres racionais com capacidade pra resolver tanta coisa e com tanta sabedoria por que não chegamos logo a conclusão de que a solução mais racional é o nosso fim? Porque queremos mais até quando não tem mais o que sugar e nossa inquietação quanto a isso pode ser muito produtiva, mas na maioria dos casos ela é extremamente destrutiva e movida por um egoísmo e aquela vontade de deixar o vizinho pra trás e depois voltar só pra chutar o cadáver dele. Daqui a algumas horas vou atrás das minhas supostas opções, na esperança de achar algum lugar que precise de um escravo modelo, daqueles que não reclama e apenas faz o que tem que fazer pra ganhar uns trocados todo mês. Talvez coloque combustível no seu carro enquanto eu não sei nem dirigir, penso no fim do expediente e no ônibus lotado que vou pegar pra ir pra casa descansar ou encontrar tranqüilidade nos braços da minha namorada que também vai estar cansada e se tivermos sorte não vamos descontar as frustrações do trabalho na nossa relação. Ao menos acredito que nenhuma das partes queira que isso aconteça. E você no seu carro, preocupado em administrar tantas contas enquanto eu fico feliz se sobrar algum dinheiro pra sair e beber por ai depois de tanta conta pra pagar. Vou tentar chegar aos lugares e me oferecer pra trabalhar e voltar pra casa desmotivado por já achar saber a resposta, mas alguém vai me ligar e mesmo que me torne um escravo de um patrão idiota que se julga um ser celestial, eu vou aceitar porque infelizmente preciso de dinheiro, que é uma coisa que eu quase não tenho, tendo muitas vezes deixado de muitas vezes deixado de ir atrás porque não tinha passagem e também porque além de todos os motivos citados anteriormente e da preguiça que não nego ter, sei que preciso de grana mas nem tudo que aparece eu teria competência em administrar e pretendo fazer bem meu trabalho. Preciso e quero fazer bem, assim como uma prostituta, com a mesma dedicação que elas tem, precisam do dinheiro mas nem por isso significa que elas tenham um orgasmo com o que fazem todo dia. Sou uma prostituta assim como você, como todos são e sempre achei que elas merecem o mesmo respeito que as mães já que elas têm tantas coisas em comum. Nenhuma mãe é virgem e toda puta é santa, mas nenhum filho é juiz.
São algumas horas a caminho de um possível emprego e se der sorte eu volto pra casa ao menos com uma carteira de cigarros e um pouco bêbado se algum amigo me pagar umas doses. A vida é minha, a vida é sua, ame ou deixe, pois não existe mais ninguém que possa fazer algo a respeito.

2 comentários:

Gecadoida disse...

Igor, tenho inveja de sua inspiração.

ayuauhahaiu =*

RENATA RAMOS TOIGO disse...

Intrigante, criativo, doentio, mas inteligente e realista.