terça-feira, 14 de junho de 2011

Funerais digitais

Você diz que sente muito...
Desejo meus pesames pro seu ato solidário
Encaro um cotidiano onde insistimos na mediocridade
Onde fingimos que algumas vidas importam mais que as outras
Somos reduzidos a números que consumimos,limitamos,definimos,avaliamos
Ao que acreditamos aglomerar o crucial em nossas vidas
Quem realmente sabe como é?
Estamos todos sozinhos nessa
Mas parece ser seguro achar que não
Mas que segurança existe em estar preso a algo
Para que assim se possa acreditar que as coisas terão um desfecho agradavel

A mesma cova que pra você é uma mera nota no jornal
Um dia vai te visitar
Ou seria o contrário?
As guerras ignoradas e suas pilhas de corpos
Os zumbis esfomeados que a nossa indiferença produz ao montes nas ruas
Lotando as cidades de mortos vivos desprovidos de qualquer respeito
São um mero reflexo da nossa humanidade de braços abertos
Do nosso coração de mãe sempre disposto a ter mais alguém
Um qualquer infeliz que possamos destruir tudo de bom e sugarmos o máximo que pudermos
ONGS e campanhas pela solidariedade parasitando nas dores alheias
Massageando nosso ego
E podemos bater no peito e berrar
"Tô fazendo minha parte"
Somos os únicos seres nesse sistema solar capazes de converter a morte em entretenimento
E você segue postando,exibindo e superestimando o seu almoço
Toda aquela futilidade indispensavel

Lembro dos dias que sonhava que era um pirata e era embalado por uma senhora
E cantavamos marchinhas de carnaval e a mesa velha era o nosso navio
Um dia essa senhora se foi
E as marchinhas ficaram mudas
Um silêncio gritava em minha cabeça
Um quarto escuro se formou em pensamentos sufocados por lacrimogêneo
E onde vocês estavam nessa hora?
Certamente cuidando de girar em suas órbitas fingindo um novo papel
Compondo esse teatro do qual também faço parte
Querendo ou não
Somos uma grande mentira
Estamos desabando a cada dia e ninguém se toca
Todo mundo acha que é importante
Que os comentários em seus blogs de merda e fotos estúpidas
Atestam que as pessoas realmente se importam
Ninguém se importa cara!
Estamos todos sozinhos nessa
O navio afundou
E hoje eu vejo outro ser engolido por um oceano desconhecido
Por ondas que abraçam qualquer um
E vejo longe
Em meus pensamentos um rosto sobrevivente
Com os olhos encharcados pelo estrago desse maremoto
Eles são claros em seu lamento
Eles hesitam e desabam
Se agarram as ruínas e gritam suas dúvidas
E impotente diante de tudo você se pergunta o porquê...

Nenhum funeral é capas de matar um afeto
Mas em vida todo amor é fadado a morte
Que bela cena construimos...
As perdas levam embora outro corpo
E lá se vai outra marcha funebre a caminho do nada
Mas não se perde o amor de uma rotina
Cada dia acordando cedo pro colégio
E tendo como bom dia aquele sorriso festivo
Aquelas mãos tremulas e enrrugadas
Frágeis como papel acariciando minha cabeça
E desejando que aquele deus que que criamos por egoísmo iria me abençoar
Isso só vai morrer comigo
Por isso bela amiga
Não existem lembranças que o tempo possa apagar
Existem os donos das lembranças que um tempo certamente irá deletar
Pois bem morte
Nossa amizade está selada
E o amor que ambos nutrimos
Muitas vezes platônico pela vida
É nosso não sei se elas estão vendo agora
Mas certamente gostariam muito que o nosso caminho continue rumo ao nada
Não estou na sua pele e certamente não gostaria de estar pois já vi esse filme antes
Mas um abraço perdido em lágrimas é o pouco que posso oferecer
Um dia você me paga retribuindo o abraço
E um dia qualquer da terceira idade a gente enche a cara em alguma enfermaria
Num asilo qualquer até que um dos dois morra e sobre as histórias sobre o outro
Mas cada momento envolvendo os casos e descasos da vida
Seja por mim ou por você contados
Serão sempre mais do que sobras
Serão um constante último banquete

Estamos sozinhos nessa...Juntos!

Um comentário:

MADALENA MOOG disse...

"Estamos sozinhos nessa...Juntos!"

Oierrr... todos juntos, na solidão.