terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Ritmo de festa!

Quando você passou boa parte da vida não sendo chamado pra festas ou reuniões sociais do tipo, frequentar essas coisas depois de uma certa idade se torna algo estranho, novo e nem sempre agradável. Eu nunca falo muito quando entro em festas e nem demonstro muito entusiasmo e isso é sempre visto como mau humor, frescura ou chatice, mas eu sei que é encher a cara que algo interessante nas pessoas aparece(o problema é quando nem assim aparece alguma coisa). Você fica sozinho, observando acuado, sufocado e com um certo asco dos rituais sociais aceitos como o normal. As pessoas estão no topo, no auge de uma falsa alegria em jogar arroz e bananas uns nos outros, trepar pelos cantos da casa depois de passar pelo clássico ritual da dança do acasalamento, e você recebendo alguns falsos abraços e olhares tortos. A música alta e os gritos animados e o vomito solitário na calçada em frente a casa é a mais sincera companhia da noite, que o vomito veio de você e não pode te trair,julgar,condenar,dar falsos conselhos, se meter na sua vida com a desculpa esfarrapada que era pro seu bem e nem vir falar com você apenas pra pedir um cigarro disfarçando o pedido com um "você ta bem cara?" . Idades,tribos, rótulos se misturam espalhando o caos na casa do amigo em comum e anfitrião que conseguiu reunir um grupo de pessoas diferentes numa espécie de reality show alcoolatra. Bebo mais e não vejo nada, tento parar de vomitar, tento me divertir, tenho ao longo da noite poucos abraços sinceros e algumas quase conversas com pessoas legais. Mas ninguém é legal ou todo mundo é...o que seria uma pessoa interessante? na verdade quando você olha pra um canto e ilhas tentando destruir e isolar outras ilhas se tem a certeza de que a humanidade consegue ser patética e comemorar isso e que você é um deles, tão ridículo quanto. As portas vão se fechando e as pessoas tiram as roupas mas continuam os segredos, todos íntimos sem nenhuma intimidade, acho engraçado e contraditório mas é mais um conceito estúpido que tenho, assim como os conceitos de todos dentro ou fora da festa. Não é o tempo me tornando um velho chato ou uma regressão aos tempos anti sociais e extremos, mas um fato. Um grupo de pessoas se divertindo consegue ser muito egoísta e solitário, muitas vezes mais do que aquele cara sozinho jogado numa calçada entornando uma garrafa. É o tipo de conclusão que costuma me deixar chateado, mas que chego a ela porque acreditei muito nas pessoas. Quando você acredita muito em algo e aquilo se mostra uma farsa e você passa a criticar ferrenhamente aquilo que um dia foi tão relevante, isso nada mais é, do que um direito seu de expor o que pensa. Não se fala dessas coisas sem ter vivido pois não da pra entender como certas mentiras funcionam. Quando uma guerra de comida se torna a coisa mais interessante de uma festa você pode ter certeza que ela é uma farsa, mas a maioria quer algo animado pra passar o tempo, enquanto eu fico perdendo meu tempo sendo eu mesmo e acabo caindo no erro que critico e me torno uma ilha também. E apesar do passado anti social eu fui a festas menores e mais sinceras onde as pessoas estavam realmente juntas, comemorando a auto destruição cometendo excessos, numa embriaguez coletiva a caminho de um coma, era diversão em estado terminal a caminho do nada. Mas nesse caso a importância das coisas era além de satisfazer o próprio ego, provocar os outros pra bancar o fodão, cuidar do que é seu, gozar ou qualquer atitude egoísta do tipo. Claro que sou egoísta como todo mundo, como você, tenho momentos assim e tenho nojo quando tomo atitudes do tipo mas não nego minha merda tão suja quanto a sua. Eu falo de algo além, e me pergunto quando foi a última vez que você se sentiu realmente bem em grupo? eu falo de amizade porra!! é bom olhar numa festa e ver as pessoas realmente felizes e sendo elas mesmas. Eu vejo gente fingindo e me sufoca conviver com isso mas ao menos temos o conforto de estarmos afundando todos juntos. O problema é esse, as pessoas apenas se conformam e isso nunca foi viver. Vou e pego minhas coisas, vou embora e a abraço a solidão escura numa noite cheia de muros. Na próxima vez eu sei que vou me sentir melhor descarregando uma arma em todo mundo. Depois é me virar e acertar o dono do reflexo no espelho.

2 comentários:

Renata disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Me identifico com estas sensações e conclusões descristas por vc nas festas.